TOC NÃO É SÓ MANIA DE LIMPEZA

Transtorno Obsessivo-Compulsivo está entre as 10 maiores causas de incapacitação das pessoas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Estima-se que no Brasil, cerca de 3% da população sofra deste mal. Muitas delas nunca foram diagnosticadas e/ou tratadas. Precisamos desmistificar esse tema e ajudar as pessoas a encontrar ajuda.

O TOC é uma doença mental grave, estando diretamente ligada aos distúrbios da ansiedade. A pessoa com esse transtorno não consegue controlar esses pensamentos obsessivos acabando por adotar atitudes repetitivas que, de certo modo, alivia essa necessidade e os sintomas da ansiedade por ele causados.

Esses rituais (como conhecidos popularmente), acontecem várias vezes de forma sistemática e podem interferir na sua rotina. E a sensação é muito ruim. O não cumprimento desses rituais trás para a pessoa um sentimento de algo terrível possa acontecer.

Ele pode se manifestar de várias formas, não apenas com manias de limpeza, como verificar se o fogão está apagado, as portas trancadas, repetição de comportamentos. Por exemplo, trancar a porta e voltar algumas vezes para conferir se está trancada, organização (organizar por tamanho, cor, em padrões obsessivos, onde não pode sair daquela posição e quando sai, trás uma sensação ruim, uma angústia e precisa colocar na posição que, para ele, é a correta.

As obsessões, são as alterações do pensamento, Dúvidas e a necessidade de ter certeza; Preocupação excessiva com sujeira, germes ou contaminação; Pensamentos, cenas ou impulsos indesejáveis e impróprios relacionados a sexo; Preocupação com simetria, exatidão, ordem, sequência ou alinhamento; Pensamentos supersticiosos com números especiais, cores de roupa, datas e horários, que a seu ver, “podem causar desgraças”.

E as compulsões são as alterações do comportamento, Rituais e repetições; Indecisão; Lentidão para realizar tarefas; Aflição; Medo; Culpa. Muitos desses rituais são observáveis como lavar as mãos e checar as fechaduras, porém também existem os rituais mentais, como contar repetitivamente ou murmurar afirmações.

É típico que os rituais compulsivos sejam realizados de forma precisa e seguindo à risca todas as regras a que foi imposto em sua criação. Os rituais podem ou não estar conectados a realidade do evento temido, por exemplo, quando está conectado de forma realista, o ato de tomar o banho serve para evitar ficar sujo e o de verificar o fogão para evitar riscos de incêndio. Já as compulsões são claramente excessivas, tomar banho durante horas todos os dias para ter a certeza de que está limpo ou sempre verificar o fogão 30 vezes antes de sair de casa.

Esses ritos atrapalham a rotina, o dia a dia do indivíduo com esse transtorno. Podendo consumir horas, comprometendo significativamente suas atividades, causando-lhe um grande sofrimento. Em alguns casos pode perceber que essas necessidades, essas atitudes são compulsivas e/ou obsessivas. Porém, tem aqueles casos em que o indivíduo está tão imerso no TOC, que acha que suas atitudes são condizentes com a situação, por exemplo, conferir a tranca da porta 20 vezes para ter certeza que está trancada e quando confrontada diz que precisa confirmar para ter certeza se está trancada, pois o ladrão pode entrar.

O tratamento do TOC é possível, especialistas poderão ajudá-lo de forma efetiva, aliviando o seu sofrimento, em alguns casos pode levar à remissão parcial ou total dos sintomas, podendo também, ensiná-lo estratégias que auxiliarão a prevenir eventuais recaídas.

Os profissionais mais procurados, são os clínicos-gerais, neurologistas, psiquiatras, psicólogos e pediatras (caso aparecer em crianças).

Normalmente utiliza-se técnicas da TCC como a Terapia de exposição e prevenção de rituais, que o expõem gradativamente a situações ou pessoas que desencadeiem a ansiedade causadora das obsessões e os rituais, enquanto ao mesmo tempo, solicitando que os pacientes não executem seus rituais. Medicações como ISRS (Inibidor seletivo de recaptação de serotonina) ou Clomipramina, são utilizadas em conjunto para estabilizar os sintomas.

O paciente precisa ter em mente que buscar ajuda significa apostar em uma reconexão consigo mesmo e com as pessoas com quem convive. Depende do seu desejo de mudança, da iniciativa de buscar ajuda.

História real.

Conheça o relato real de uma pessoa que conviveu e superou o TOC:

“Por volta dos 20 anos comecei a ter atitudes e comportamentos não usuais. As roupas no armário organizadas por tamanho e por cor, preocupação exagerada em combinar cada peça.

Em viagens de final de semana, levava 2 malas, uma exclusiva para sapatos e acessórios. Cerca de 80% da mala voltava intacta, mas havia a necessidade de ter tudo na mão.

Na minha mesa de estudos, tudo estava milimetricamente colocado e se alguém movesse qualquer que fosse o objeto, era motivo de irritação, desconforto e logo colocar de volta no lugar.

Um dia (inesquecível) eu estava na casa do meu noivo, estávamos nos arrumando para ir ao Shopping, eu estava sentada na cama colocando a meia (naquele dia eu tinha escolhido o azul como base para meu look), eu coloquei a meia no pé direito (sempre colocava no pé direito primeiro), de repente eu tirei a meia do pé direito e peguei o outro pé, foi nesse momento que meu cunhado (que também iria sair conosco) perguntou, porque você tirou a meia do pé e eu respondi que aquela meia era do pé esquerdo e não do pé direito. Ele olhou para meu noivo e fez uma cara de que não estava entendendo nada, meu noivo disse ela é assim mesmo, tem TOC. Eu fiquei em choque, pois nunca tinha me deparado com isso, nunca tinha pensado que aquelas atitudes poderia ser TOC.

Foi nesse momento que percebi que precisava de ajuda, pois tudo que eu fazia tinha um excesso por trás. Roupas extremamente organizadas e padronizadas, mesa de trabalho com tudo milimetricamente colocada no seu lugar. Contagem, por exemplo, subia um lance de escadas e contava cada degrau e se me perdesse, voltava do primeiro degrau e começava a contar.

Procurei ajuda na psicoterapia, sabia que precisava me esforçar e que mentir para a psicóloga era mentir para mim mesma. Eu estava convicta que poderia melhorar e sair daquilo que tanto me fazia sofrer.

A melhora foi gradativa, com a ajuda da terapia e do meu esposo, me confrontando e colocando sempre de frente com o ritual, dizendo olha o TOC, repare o que está fazendo. Em momentos de muito estresse dou uma escorregada, mas hoje consigo controlar. Hoje consigo ter uma vida normal. Hoje consigo colocar qualquer meia em qualquer pé.” V. B. 38 anos. 

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